— 1.º Dia—



Tinha tido um descanso péssimo. Passei a noite a dormir numa bancada do aeroporto de Lisboa. Fui impedido de entrar em território português depois de quase duas horas à espera numa fila mais longa do que algumas dos bancos em Moçambique. Por fora, a pressão dos meus amigos à minha espera era maior, mas no final tive de anunciar a má notícia, aquele encontro não aconteceria. Aliás, aconteceu, mas sem mim.

Depois de quase quatro horas de voo, só queria pisar solo cabo-verdiano. Aterramos e ao sair do aeroporto, levei logo um choque com a realidade, a língua. Sim, a língua era uma barreira. Vim convencido de que falavam português, mas as primeiras palavras que ouvi foram: “Undi bu sa bai?”.

Era crioulo. O taxista não falava português, mas entendia. Pelo contexto percebi que me perguntava o destino. Mostrei-lhe o endereço no telemóvel, mas ele não o reconheceu porque só se focava na imagem do hotel e não no endereço que estava logo por cima. Veio um colega, esse sim falava português, leu e explicou onde era.

Seguimos viagem. A segunda situação curiosa foi o volante e a faixa de rodagem. Parecia que estávamos a infringir as regras, pelo menos tive essa sensação, mesmo sabendo que o volante era à esquerda e se conduzia pela direita.

Chegados ao hotel, perguntei quanto devia pagar:

— 2000 escudos cabo-verdianos.

— Mas o hotel disse-me que eram 1000!

Ele respondeu algo do tipo, que o preço tinha aumentado há algum tempo, mas que eu podia dar-lhe 1500 ECV. Eu só tinha euros. Dei-lhe 20 euros e pedi o troco. O senhor disse que não tinha troco.  Depois de alguns dias percebi que era um truque comum em cabo-verdianos quando percebem que és estrangeiro.

Acabei por ceder. Uma viagem que devia custar 10€ saiu-me por 20€.

Como disse, a língua era um problema. E com o cansaço, não podia cozinhar. Outro detalhe, onde estava hospedado, as refeições não estavam incluídas. Podia comer fora ou encomendar comida. Havia uma cozinha e sala disponíveis, então decidi preparar as minhas refeições de segunda a sexta-feira, deixando o sábado e domingo para experimentar pratos locais, excepto nos dias em que comia fora durante o trabalho.

Tentei encomendar comida e veio o motoboy, que também não falava português. Fez o truque do troco e isso custou-me mais 50 escudos.

Comi e dormi das 17h, horário de Cabo Verde, até às 4h da manhã. O meu corpo estava completamente baralhado, então tentei voltar a adormecer….continua…

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