Era oficialmente o primeiro dia das minhas actividades. Já havia marcado encontro com a Sra. Denise, uma pessoa incrivelmente gentil, e manifestei a minha disponibilidade para visitar as instalações do IILP, um lugar pequeno, mas que respira arte. Tudo ali é artístico, de arquiteturas antigas. Acabei sabendo que, fazia pouco mais de dois anos, o edifício tinha sido reabilitado para acolher o Instituto Internacional da Língua Portuguesa.
Acordei animado para a jornada. O taxista que me levou até lá não fugiu ao truque habitual de alguns taxistas cabo-verdianos quando lidam com estrangeiros, fingiu não ter troco. Mais uma vez, a mesma desculpa. Desta vez custou-me 50 ECV. Como já estava no local, deixei pra lá e entrei no IILP.
Fui recebido calorosamente. Enquanto esperava na recepção com o Ivandro, um jovem extremamente bondoso, conversámos sobre os truques dos taxistas. Foi ali que, pela primeira vez, ouvi alguém dizer que eu parecia cabo-verdiano. Mas o disfarce caía assim que eu falava, o problema era a língua. Ele sugeriu que eu aprendesse pelo menos algumas expressões básicas de crioulo, como saudações e saber falar para onde vou, para evitar certos episódios. Até aprendo línguas com facilidade, mas ali custava-me. Em outras situações, tive mesmo de recorrer ao inglês para me fazer entender.
Após o encontro com o Director, que foi um encontro incrível, fui a um dos museus de artefactos. Por ser estrangeiro e ainda não ter credencial de pesquisador, tive de pagar 200 ECV, o Ivandro pagou 100 ECV.
Os objectos não pareciam de grande valor material, mas carregavam história. Comecei a perguntar-me se em Moçambique temos a nossa história organizada daquela forma. Até hoje devo uma visita aos museus moçambicanos. Só não sei com quem irei.
Aprendi muito, mas ainda carregava várias interrogações sobre Cabo Verde.
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À NOITE
No período da noite houve um lançamento internacional na Biblioteca Nacional de Cabo Verde. Arrisco a dizer que só estavam lá pessoas importantes: embaixadores, académicos, literatos e familiares do autor.
Entrei como Nunes Cristóvão e saí como “ Nunes Cristóvão Plus”. Percebi ali o verdadeiro poder da literatura. A literatura é capaz de te fazer entrar numa sala de lançamento de um livro póstumo, mesmo de alguém que talvez não conheças. No meu caso, já tinha alguma noção sobre Mefrano, conhecia-o como autor e grande promotor do valor social africano, em particular angolano.
Mas a apresentação e a interpretação que a apresentadora fez do livro deixaram-me encantado.
Concluí que os livros são pessoas e, se me negarem isso, então são pelo menos a extensão delas.
Como costumo dizer aos meus amigos que não gostam de ler, onde há livros, há comida. Por isso depois do lançamento, claro, houve um cocktail. Eu só queria algo fresco.
Coloquei um pouco de um sumo muito bonito que havia por ali, para acompanhar uns doces e salgados. Acabei mal m, acredito que aquele sumo era um daqueles que os nutricionistas dizem ser “saudável”. Tinha gosto de água a diferença é que tinha cor e aroma.
…continua…


2 Comentários
Amando acompanhar esta viagem literária .
ResponderEliminarMuito obrigado, por acompanhar essa jornada.
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